sábado, 8 de junho de 2019

ladainha...



quando ainda é noite, mas também já é manhã
canta em mim a saudade, lembrando
os passos da mãe no sobrado
a ladainha da avó rezando
enquanto à espreita já o sol pelas frestas do telhado.
a vida já não tem o mesmo sabor,
nem aos meus ouvidos vem o rumor
do rio, quando ainda é noite, mas também
já é manhã, e ele corre com destino certo
e eu de sono esperto
com as ideias em trampolim,
sonhando, tentando descobrir ao que vim.

o sol continua a espiar-me, fazendo um bailado
nas paredes do quarto pequenino
como que a desafiar meus gestos parados
ladino, beijando-me a face
deixando o perfume no ar
e eu oiço os pássaros a acordar
com seu chilrear em festa
quando ainda é noite e a manhã já se avizinha
canta a saudade em mim de novo até à noitinha
e o sonho é tudo o que me resta.

a mãe abre as janelas ao vento da manhã
e abre-se o dia em que a gente vive e sente
que há sempre uma pedra p'lo caminho,
e na minha ingenuidade em flor
sonho e não adivinho
como fazer para acabar este poema de saudade e
de amor...
quando a noite voltar e e ainda não fôr manhã
vai a lua enredar-se, meu coração deste jeito,
continuará a sonhar.

natália nuno
rosafogo
imagem pintarest



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