oiço a respiração do silêncio
tudo no escuro parece assombração
há molduras abandonadas na parede
pára o meu coração e
na garganta a sensação de sede.
sente-se o bolor, a humidade
manchas amareladas fazem parte
ainda assim a saudade
eu sinto, das filhós na lareira
feitas com arte...
entra o vento pelas frestas da janela
treme a torcida na candeia
aqui estou a esperar por ela
tarda nada é hora da ceia
encostada à parede a mesa
com toalha branca desenxovalhada
passada a ferro como quem reza
pela avó que em solidão se sente
abandonada...
os pratos na cantareira
os talheres da bisavó
neste dia é grande a canseira
e eu ali estou, sentada na minha pequena cadeira
aguardando a minha filhó
na casa vazia, oiço a lenha que estala
e há fantasmas que vêm comigo à fala
em frente à janela pequenina
avisto a macieira, lá em baixo o laranjal
no meu quarto a mesa de cabeceira
onde ponho as memórias deste Natal
este é o refúgio da minha imaginação
onde o silêncio é total e o sol já vai a pique
brinco à apanhada no adro e o sino pede
que eu fique... a lembrar-me que ali pertenço
ele estará sempre nas dobras do meu coração
será sempre constante o amor à terra,
este amor imenso.
natália nuno
rosafogo
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