pequena prosa
vou tecendo imagens pensando poder recuperar aquilo que não poderá mais
voltar a não ser à minha mente, chove-me na alma gotas de nostalgia e também de agonia, há memórias onde certos rostos já não
possuem identidade, desse passado que não pretendo esquecer que é meu e que ainda
me pertence… vou cedendo, mas não me permito na queda perder a dignidade, e não
me nego à esperança que a vida ainda me oferece, às vezes me embaraça a tristeza, trespassa-me o âmago, mas só às vezes, deixa cicatrizes que eu vou curando com
as palavras e lá passa o medo daquilo
que por enquanto desconheço, o esquecimento…o tempo é ave de rapina, que se abate sobre a memória, deixa os olhos nublados e todo o corpo em
desassossego. Mas eu agarro-me a tudo que está perto do coração, às melhores e
mais felizes recordações, esqueço pressentimentos maus, deixo-me ir lá atrás à
casa da infância, onde a grande lua
amarela me fala de sonhos, deixa-me o coração palpitante e eu fico ditosa julgando-me dona do mundo…e no meu fugaz paraíso, nimbado de sonhos d'ouro, ao compasso duma melodia que só eu escuto, consigo reencontrar a felicidade, até que a luz clara da manhã dum novo dia que se ergue talhado pelo sol faz comigo uma aliança d'amor e nas horas que se seguem percorremos a praia da infância num desejo que nos leva ao delírio... nas águas felizes o aroma da saudade onde minha alma navega ainda como uma ave levada pelo vento num vôo livre, elevando-se por onde cresce o céu...dos meus sonhos.
natalia nuno
rosafogo
aldeia 4/2015