quarta-feira, 8 de abril de 2015

a linguagem da natureza...



pequena prosa

aqui na aldeia  a linguagem é a da natureza, o rumor dos pinheiros, os pássaros girando por entre as árvores num rodopio, acasalando, emitindo uma orquestra de sons, o sol é presença em cada flor em cada arbusto, enchendo o campo de tapetes verdes, liláses, amarelos, brancos e tons de chocolate, a água desperta em cada ribeira, cada regato, cantando a mesma melodia que aprendeu desde idades remotas, não há nuvens no céu, e o azul é igual ao manto de Nossa Senhora da Vitória... aos nossos olhos saltam borboletas de todas as cores, numa luta pela sobrevivência, abrindo suas asas de fogo sem descanso, fresca é a aragem do vento que desce da serra e se derrama nas folhas dos loureiros
que bordejam as margens do rio. Os trigais e as suas cabeleiras de fogo ondulam imponentes, tornando visíveis uma ou outra papoila vermelha, nas canas os sussurros da aragem invisível e o canto da calhandra ou da cotovia que por lá se abrigam, também o pintassilgo mostra a sua plumagem insinuando-se como o mais belo.
E até o destino em fuga, parece querer permanecer, vai rasgando devagar o arvoredo,  olhando as giestas amarelas, como se quisesse desertar da sua corrida e deixar-se anónimo na ternura do crepúsculo que já vai amadurecendo,trazendo o eco da noite à alma das coisas.
O sol já se afunda, mas amanhã estará de volta trazendo o orvalho pela madrugada, e quebrará de novo o silêncio dos pássaros... uma légua mais adiante a fruta medra a olhos vistos nos pomares e os meus olhos irrequietos olham o universo para se certificarem que não estão sonhando …

2 comentários:

  1. Essa descrição magnífica dos encantos da natureza é a prova magistral de que não esteve sonhando. Foi agraciada pelo esplendoroso espetáculo do findar de mais um dia,
    Uma prosa linda amiga Natália
    Beijos amiga

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  2. Tão pertinho da natureza é impossível não sonhar amiga, é tudo tão diferente do bulício da cidade a que apesar dos anos ainda não me habituei...sempre que passo uns dias na aldeia me surge esta vontade de escrever como se retrocedesse 50 anos. é sem dúvida a saudade!
    Beijinho grande querida amiga, grata pelas palavras e visita aqui ao meu sítio.

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