sábado, 28 de julho de 2012

o sufoco da escuridão



Chegou a noite, tudo é silencioso
e triste
É como se chegasse a morte de repente
Como se a vida não existisse.
Para trás ficou mais um dia,
nasceu e morreu gente.
Mais uma página rasgada
Lentamente a vida vai ficando sombria
e sinto tanta coisa afastada,

As portas trancadas
e meu pensamento
escancarado à ventania
deste dia, para meu tormento,
lembranças arrastadas,
numa melodia vadia.

O silêncio torna-se frio
com as coisas quietas e caladas
sinto-me no vazio
e as palavras me saem enferrujadas,
os pássaros se aninharam lá fora
pararam seu canto
aquele que lhes ouvia outrora,
agora as folhas os ouvem de perto
deixando-os na noite a coberto.
Vou escrevendo e olho pra todo o lado,
me amedronta a noite e, sem saída
deixo este verso inacabado
até que se me acabe a própria vida.

Mas quando a escuridão passar,
vou ouvir de novo o canto da cotovia,
e a vida vai de novo principiar,
vou colher toda a alegria...
Porque o silêncio triste era da noite
Nem sequer me pertencia

natalia nuno
rosafogo
imagem da net















AUSENCIA

Percorri mil caminhos
Saltitei de estrela em estrela
Montei doces cavalos-marinhos
na ânsia de te encontrar!
Ao anoitecer chovem ausências
A tua...a minha.

Pergunto por ti...
Percorrem-me lágrimas
Sem sal... em cristais!
Nem o vento, nem o mar
Não existem! Somente a dor

Partir? Ficar?
Não encontro a chuva do teu Mar
A doçura do teu olhar
Acordo em manhãs sem sentido
Barcos que se escondem
em nevoeiros de marfim

Cantam as aves, choram os rios
Que é feito de mim?

Têm os meus olhos o cheiro das giestas
A minha alma a cor do assento etéreo
Durmo em camas de feno
A voz de rosas despertas
Mas onde estou?
Para onde vou?

Sou ave sem espaço
Rio sem margens
Paixão sem delírio
Sou tenda despida
Carência sem medos

Apenas o Olhar...
na tua
a
u
s
ê
n
c
i
a
!

By Beijo Azul
POEMA QUE ME FOI DEDICADO PELA POETA AMIGA FÁTIMA SANTOS...HAEEREMAI,
a quem agradeço de coração.














o tempo é lei...


A vida passa de mansinho
que nem sei!
Se ela passa ou eu por ela,
não sei nem adivinho.
Por dentro da minha janela
onde a luz é nebulosa,
aguardo silenciosa,
pois a luz sempre volta
ao meu pensamento à solta.

O vento sacode as folhas rejeitadas,
resta-me a força do querer.
No fundo dos olhos lágrimas afogadas
deixam a solidão antever.

No espelho velho,
na moldura roída,
a viagem de tantos anos,
meses passados,
a vida caída,
e os traços vincados.
O tempo mostrando os danos.

E a vida passa que nem sei,
marcando fortemente a viagem.
O tempo é lei!

E eu sou Mulher coragem!


Gerês 21/07/2012

sexta-feira, 27 de julho de 2012

deixa que te lembre das rosas...








Deixa que te fale da minha emoção
Que te lembre das rosas
do enamoramento,
das tuas mãos inquietas, da paixão,
dos orgasmos soltos a cada momento,
do despudor de para ti me desnudar.
Não deixes que a memória se vá jamais,
talvez que o amor ainda traga algo
por desvendar.

Que seja assim sem mais nem mais!

Abrem-se sulcos no rosto
o tempo acumula-se amadurecido
o olhar tem o brilho sereno
do sol-posto.
Vive de sonhos o coração
e o tempo vangloria-se campeão.

Secaram dos olhos os mares,
andam lágrimas a esconder-se,
e o verde a perder-se.
Tempo de mim esquecido
labirinto onde vagueio,
deixa que o sonho ainda faça sentido
que o doce escorre do meu peito cheio.

Não deixes o silêncio criar raízes
deixa que seja ainda tua rubra flor
Não me acordes, sejamos felizes,
Só assim sobrevivemos
vamos sonhando ...amor!.


Gerês,  21/07/2012


terça-feira, 24 de julho de 2012

o olhar da memória



Rolam memórias cansadas
à hora do anoitecer
por todos ignoradas
menos p'lo meu querer.
São da minha fome o pão,
alimento doce do meu
coração.

Quantas histórias em mim
a acordar...
A saudade que meu ser aquece,
dum palmo de terra que hei-de sempre
amar,
porque a terra da gente, jamais se esquece.
Tardes de outono passam por mim,
caindo sobre o rio o chorão
essa beleza secreta sem fim,
que vem acordar meu coração.

Vejo com nitidez
no mais profundo do olhar
as gotas que se desprendem do beiral.
O riso rasgado, o modo desajeitado
quando a vida era talvez
assim... o tempo sem passar!
A tarde sentada no poial
a aguardar da noite a chegada,
sobrando ternura,
sonhando ventura,
ventura que tardava
e  a pobreza rondava.

As mais finas raízes são fortalecidas
por Deus,
que nos deu o rumo certo.
O rumo do caminho a percorrer.
Minha memória é um clarão
em aberto,
que me alumia o sonho, e outros
que houver.

natalia nuno
rosafogo
imagem da net



segunda-feira, 23 de julho de 2012

só o rio corre...


Há silêncio nas molduras,
o tempo a sobrar.
Calaram-se as vozes,
o sono acabou por chegar.
Venturas e desventuras,
o tempo entristeceu,
a manhã jamais rompeu!
E um gemido se ouve,
nos pomares e hortas
onde vida já houve.
Agora só lembranças mortas.

Só o rio corre!

A lua chega sempre na hora certa,
o sino toca dá notícias de quem morre,
a aldeia deserta.
Só os cães ladram,
pressentindo a morte.
Ergue-se o silêncio dos que esperam
igual sorte.
Casas sem vida, portas cerradas,
com o tempo a sobrar.
Só as molduras caladas,
resistem ao vazio,
enquanto as noites descem.

Lá em baixo o rio,
e as ervas crescem,
onde a luz é mais forte,
e o lençol de linho embrulhou a morte.
O vento arranca as flores,
que se negam a abrir,
e para sempre as dores,
no peito a fluir.
Tudo se esconde no cinzento,
sem nenhuma forma ou beleza,
é tudo o que observo com tristeza,
e lamento.
Aproximo-me de mansinho...
Todos se foram,
há tanto tempo!
Só o rio corre…
Só ele não morre.
Vai chorando baixinho.




Ponte de Lima, 20/07/2012
natalia nuno
rosafogo