quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

círios da memória






na cómoda antiga
havia sempre flores
e imagens de santos,
e minha avó em prantos
lembrando de seus amores
rezava uma ladainha
em voz baixinha.

grandes alguidares de barro
no forno
amassava-se o pão
benzendo-o com oração
«Deus te acrescente,
que és alimento de muita gente»
aqui ali um adorno,
uma sertã, uma cafeteira,
e na quinta feira
da Ascenção, um raminho de oliveira.

nas vigas da chaminé
penduravam-se os enchidos
e nas brasas fervia-se o café
enquanto a trovoada, zenia aos
nossos ouvidos.

a roupa mil vezes passajada
as iguarias poucas
às vezes imensa comoção
e todos os dias
a sopa e o pão.
na paz do alheamento,
se repousava em frente à lareira
deixava-se correr o pensamento,
e faziam-se contas duma vida inteira.

as silvas já formavam amoras
comê-las? Só quando maduras
em doce caseiro comido nas horas
de menos farturas...
a cor vermelha era como cilada
para atrair a passarada...
já se ouvia o barulho dos carros
o chiar dos eixos,
fugia a passarada, atordoada
abandonando os freixos.

e a lua aparecia e desaparecia
o sol nascia e morria
e assim a fé crescia
enquanto a vida corria..

natalia nuno
rosafogo
imag-net




2 comentários:

  1. Olá Natália

    Tens poemas de encantar
    Mesmo que seja a recordar
    E não podendo atrás voltar
    O coração não pára de amar!...

    Quero agradecer toda a atenção e amabilidade demonstrada, e aproveitar o ensejo para te desejar um santo natal assim como para os que te são queridos.
    Beijinhos

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  2. Transmissão de pensamento, ainda há pouco pensei que tinha de ir ao teu blog para te desejar um Bom Natal, de facto quando as pessoas se estimam não se esquecem.
    Retribuo meu querido amigo desejo tudo bom para ti principalmemte que o Ano próximo seja auspicioso trazendo-te tudo quanto mereces.

    Grande abraço, grata pela estima.

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