sexta-feira, 19 de setembro de 2025

ao tocar a noite...



lembranças ilusórias
que são ilusões sem fim
trazem histórias
destroem-me os dias
e os sonhos que restam em mim

sonhos poeirentos
turvos, sem luz
são pássaros aos ventos
amor no peito girando
- a saudade lembrando!

chega o inverno a meu sangue
débeis versos chegam ao fim
corpo de estremecimentos exangue
esfiapado o viver, a morrer em mim.

ainda a criança que sou
arrasta-se a criança que fui!
delas a melancolia se aproximou
e  assim a Poesia tristeza possui.

natalia nuno
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música de outono...

no patamar da noite

fecham-se flores no jardim

e eu recebo a SAUDADE em mim


esse preciso sentimento

que tudo torna presente

traz música de outono

 ao pensamento

e amortalha os ais que o coração sente.


na nostalgia da tarde, há rosas

que chamam por mim

lembranças sem fim, 

-ouço-lhes a voz!


e o silêncio torna-se profundo

a noite espreita, 

imensa é escuridão

minha vontade, numa esquiva hesitação

é  pássaro cansado da viagem,

sem asas, nem ramo

- onde se abrigar!


sobrevive a esperança do amor 

o poder tocar.

 

natalia nuno

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segunda-feira, 15 de setembro de 2025

quando o mundo pára...

há um brilho de vida

no olhar, quando falas de amor
na noite sempre se adivinha o desejo

e lá vem o calor, 

de mais um abraço

na boca o sabor, o sabor do beijo

no corpo o cansaço

o último estertor sai-nos da garganta

e um pássaro esvoaça na retina

tudo nos encanta, sou tua menina.


o tempo agrediu-nos, tanto devorou

mas o amor saiu ileso,  sobreviveu,

é lâmpada que não se apagou

 

natalia nuno

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palavras redimidas...



lá atrás ficou a juventude
abolida p'los anos
volto lá amiúde, em sonhos
para defrontar onde se meteu
minha euforia, minha alegria

à noite chegavam as estrelas
e os pirilampos do céu
no vaivém da nossa eira
as cigarras cantavam noite e dia
escondidas no trigo por malhar
a cotovia na oliveira se escondia
e o morcego que não dava sossego

tudo se enraíza na inquietude 
da minha memória
que saudade da minha juventude

na estrada o chiar dos carros de bois
e o pastor com rebanho logo depois

lá em baixo no rio
coaxavam as rãs
e eu, 
ouvia a melodia
ia longe, a noite de breu

na erva entrelaçavam-se as lagartixas
e nas árvores procurando pouso
os pássaros faziam rixas
logo a lua já me trazia o sono
e eu sonhava com ela no seu trono

fecho os olhos e ainda sinto
os aromas das flores de laranjeira
o voejar das abelhas nas cerejeiras

o sol crescia na ladeira
e um fervor ainda me alcança
tudo me chama, vive ama e canta
a alegria, a saudade, a criança
o ser inteira, neste sonho que criei
êxtase onde vivo e viverei

natalia nuno
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o que vira depois?...



perguntei-te outro dia

o que acontecerá aos dois

vivendo, sem mim vivias?

e o que virá depois?

talvez  juntos não caminhemos

talvez a vida imponha separação

mas de amor juntos viveremos

unidos pelo coração...

 

natalianuno

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sorrisos aos molhos...

nosso amor é loucura

é aroma que embriaga

que importa se é maior a ternura

doce prazer que nos afaga


é amor de perdição

pra mal dos nossos pecados

não quer saber da razão

traz-nos tão enamorados

 

este amor tão verdadeiro

que me traz assim tão louca

tem do alecrim o cheiro

o beijo da tua boca


vamos assim vida fora

trazemos sorrisos aos molhos

no silêncio desta hora

nos teus ponho meus olhos


amor que é mar embrabecido

que não se dá por vencido...

 

natalia nuno

12/2007

aldeia Sta Justa

rabiscos...



vidas serenas, solitárias e doridas

do trabalho árduo...

a minha memória demora-se um pouco a lembrar,

 a roupa estendida a secar ao sol, 

a louça lavada num alguidar de barro,

- o outono e os seus langores,

- as casas do lado de lá do rio, 

as pequenas ruelas estreitas e tortas,

as gentes cansadas ao anoitecer

- sentadas nas soleiras das portas, 

estas imagens ajudam-me a negar que tudo morresse...


natalia nuno

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rabiscos...cordão umbilical...



cordão umbilical

e tudo se cumpriu, mas não como nos sonhos daquela menina de silhueta magra, a miúda da minha memória que se agarra a mim, e parece não querer cortar o cordão umbilical que nos une, garota que parece ter adormecido com o rosto entre as mãos, gostava de a poder reconfortar, mas os nossos silêncios são mistérios que tecem memórias, onde o sol começa a desaparecer...

natalia nuno

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