sexta-feira, 1 de agosto de 2025

depende de quem olha...




o dia nasceu, aos outros igual
não há sinais no céu
sem nenhuma singularidade
por enquanto nem sol ardente
mas em mim, a mesma saudade

como um parto que se anuncia
assim nasceu como todos os outros dias,
vai crescendo, sem grandes anomalias

os ventos, e o sol, fazem turnos
e eu todo o dia envolvida
na mesma sombra
como se nada tivesse mudado
e o pensamento tivesse congestionado

hoje só traços feitos num papel
sem nenhuma utilidade
tão iguais a tantos outros
onde escrevo minha saudade

e quanto mais este dia igual a tantos
avança,
faço riscos no papel com aberturas
para que as aves se aninhem
e ali criem filhos com ternuras
sem me aperceber que isto não é
poesia
e assim avança meu dia!

aberturas?
apenas ligeiro relevo
na superfície da folha
não sei se com poesia, ou sem ela
depende de quem olha
enquanto parto num barquinho à vela.

natalia nuno
imagem pinterest

quinta-feira, 31 de julho de 2025

sem quem entenda nada...

 


 este amor à vida
 é inquietude que me arrasta
 quero amá-la com os cinco sentidos
 mesmo quando de mim se afasta

sou  tarde humana
que se despede do seu
esplendor,
meu riso deixou de ser transparente
trago mãos de mãe cansadas 
que já deram d'amor ardente

tarde, que espelha desassossego
vive num silêncio ensimesmado
num sonho destroçado

queixa-se do futuro sem lá chegar
num jogo de não querer, 
e perceber
que não há como recusar,
estranha mágoa por perder 
esperança
de ar cansado envelhecer

a noite acossa os pensamentos
transforma-os em ruas de ausência
golpeia o sono
e traz a fuga aos dias
a memória ao abandono
e a vida em apagão,
vão-se as alegrias
resta o frio e a solidão.

natalia nuno
imagem pinterest