sábado, 12 de outubro de 2024

o ar do crepúsculo...




o rosto sorrindo,
tristeza não deixava antever
hoje como paredes pardas
de inverno caindo,
levou tempo aceitar com ele conviver.

hoje nenhuma voz me oferece calor
nem as palavras das cartas d'amor
só a tristeza no olhar a reflectir-se turva,
e perdido o sorriso,
meu rosto é como sombra
que na calçada piso.

as palavras, podem ser companhia,
ou ser um fio cortante e desatado,
mas mantêm-nos mais unidos
a cada dia...

porém, a sombra nostálgica
permanece entre nós
surge do outono da nossa tristeza,
carregada de chuvas e de ventos.

dura é a angústia que já não sabemos
suster,
agora que o sorriso descansa,
é memória com golpes de cansaço
que nos faz doer.

natalia nuno


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milagre...



 - nas raízes das veias
que são agora como teias
que a aridez da vida teceu,
dia após dia aprendizagem
o que sobra são imagens dos
anos sombrios que Deus me deu

a vida tem um som distinto
quando invoca a esperança
nesses dias milagre, tu menino
e eu ainda criança

a memória recorda e nega,
o fundo triste onde o coração
navega
vai-se enterrando nos dias
sem saber já da entrega
do amor e a quem amaste, 
se devias!

esqueci o que quis ser
tudo o tempo apagou
não vai a esperança renascer
a esperança, que  o coração
golpeou.

natalia nuno
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quarta-feira, 9 de outubro de 2024

caminho indeciso...

-  a palavra « talvez»
traz-nos tanta incerteza
a vida nos põe à prova
mas há sempre uma boa nova

talvez não olhe o poente
triste é sempre a partida
chegou o outono de repente
sinto-me um pouco perdida

talvez seja como dizer adeus
a mais um ano
horas doloridas lembradas,
foi-se o sol, ledo engano
com ele lembranças amadas

eu que palavras poucas tenho
talvez me olhem com tristeza
são poucas a que me atenho
na minha fiel solidão, são matéria
de sonho e incerteza.

natalia nuno
imegem pintarest

palavras e nostalgia...

 


a mão tão apaixonada tão doce sempre presente apertou-lhe a sua com força, arrebatou-lhe o coração, em desvario ouviu a medo palavras em segredo, palavras que não conhecia mas que ainda hoje giram na lembrança, seduzindo-a com essa ternura levou-a ao altar.

...tudo lhe parecia novo, até o brilho dos astros, cresceu rapidamente, mas no horizonte dos seus sonhos continuava a menina deixada num farol de luz, para rever sempre que fosse sua vontade...por mais palavras que a mão lhe escreva, brotará sempre a nostalgia, sentir-se-á sempre envolta por uma bruma, e nos trinados dos melros às portas da noite, um esquivo poema lhe dirá, que não tema mais um dia...

- longe dos sonhos, as palavras fazem-lhe companhia, confortam-na, para não cair no vazio, palavras cheias de fervor e ressonância, que a fazem voltar ao tempo da feliz infância.

natalia nuno
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deixo-me levar no vôo...



- aparece o frio do amanhecer, por entre os galhos, os raios de luz se entregam e nasce o dia,
mais um para cumprir, não desisto, não é minha vontade, há um fiozinho de água que corre no meu coração apertado, que é magia que não morre, e um arco-íres no céu azul aqui mesmo a meu lado, e eu que poucas palavras me restam, levo os dias conduzidos por fios rotineiros, às vezes num vazio deslizante, deixo-me levar no vôo perdido das folhas, apertando meus passos na luz caída da tarde, com este coração saudoso do tempo vivido e às vezes perdido  esterilmente.

- estendo-me sobre a minha história, relembro cada golpe da vida, como se fossem apenas imaginação minha, e sorrio agora lembrando bons momentos, é grato recordar, esquecer o rumor das coisas más, e continuar, já que a vida é tão fugaz... e simplesmente respirar na companhia do sonho.

natalia nuno
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terça-feira, 8 de outubro de 2024

meu universo...



bom dia Universo
confio em ti
e faço-te mais um verso
um dos muitos
que ao nascer te prometi

cósmica alegria
ao desfrutar de mais um dia
de força provida
nos confins do tempo
que me destina a vida

início da minha existência 
na existência dum velho
mundo
desde meu primeiro respirar
à vertigem do Sol e da Lua
que ainda me fazem girar

são muitos os medos
que me fizeram embranquecer
voaram muitas vogais
dos meus dedos
intensas, mas sem conhecer
as angústias dos meus ais

se a vida persiste
até ao último tremor
visto-me com veste de esperança
e, com saudade e amor
sou de novo menina, criança.

natalia nuno-rosafogo
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amar-me mesmo na saudade...



quero romper o curso dos pensamentos
ando à procura do voo
quero amar-me mesmo na saudade
sorrir à luz que me acaricia
desvanecer como ave 
que voou

ter poesia aos primeiros
raios da aurora
ver a alegria transbordante 
da juventude na hora

varrer as folhas secas
dos meus olhos,
e no espaço bem fundo dos teus
sentir a sede que eles contêm
ao olhar os meus...

o nosso viver é feito de histórias
e memórias
um velho sonho, um céu que é rio
em movimento
onde me procurarei sempre junto a ti

até à fronteira do inverno
onde
me perderás, porque parti.

natalia nuno 

domingo, 6 de outubro de 2024

à beira da última estação...



à beira de mais um inverno
de tantos invernos...
longínquo vai o caminho
e com ele tantas palavras perdidas

mas ainda há flores nos meus olhos
meio desvanecidas
o aroma ainda persiste nos sentidos
e as palavras espreitam a hora seguinte
há sentimentos oprimidos

e o coração é um pedinte
que bate, sem cessar aos meus ouvidos

não sei de onde me vem esta vontade
esta ilusão que me acalenta
de ainda inventar sonhos

esta saudade às vezes violenta
que me leva aos dias risonhos
ou numa inquietude me perder

dirijo-me agora pra nova distância
até sentir o impulso do meu sangue
olho o horizonte,
- e procuro-me nele, criança.

natalia nuno
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abraça-me...


 

-  os meus sonhos vão ficando mais ermos e indefesos, são como frutos maduros caídos ao chão, passam noites, passam dias e á esperança, já não peço vida, só a saudade se refugia nos meus olhos, abraça-me, pois só teu abraço transforma a minha prisão em liberdade, abre o meu céu em riso, e traz-me a  coragem que preciso... numa só palavra a beleza do amor, desperta os pássaros adormecidos em mim.

chegam à minha vida aves de sonho.
neste outono imorredoiro, com simplicidade vivo escrevendo a todo o instante o fogo da felicidade, como um delírio no fundo da minha pele, meu corpo delira em contacto com o teu, sou agora parte duma estrela trémula, água sedenta do deserto, e tu o aroma da minha vida.

- escuto as palavras no silêncio, só eu as ouço, são como rio d'amor que com os anos cresceu, procuro-as como as lágrimas procuram um rosto, são como vento que tenta ofuscar-me a felicidade, uma aparição que ora que me chega e logo se evade.

natália nuno
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