perdemo-nos nos anos
pensar que os dias da velhice
seriam venturosos,
foi o último dos enganos,
quietos, dormitam silenciosos.
mas é bom envelhecer
com alguma claridade,
a vida é densidade
e a velhice é saudade.
hoje o dia trouxe uma luz cinzenta
agora o vento grita ao portão
na lareira há teias de aranhas mortas
que ele tenta, mas em vão!
está o batente da porta quebrado
e as traves do tecto carcomidas
o fogo da cozinha pequena, apagado,
e sombras por todo o lado
de quem perdeu as vidas.
um banco ali na esquina
fixamente a olhar-me
- és tu aquela menina
de quem estou a lembrar-me?
sento-me sem vacilar
sem outra força que meu passo incerto
extrema solidão por perto
e a palavra saudade no coração a pesar
olho os muros antigos
um dia não longínquo, visito amigos
coisas da alma, já não brota
nem arde a vida
só na lembrança ainda sou criança
em pouco, chega a hora da partida.
natalia nuno
rosaofogo