sábado, 17 de junho de 2023

Só...


a vida é caminho
que termina em qualquer parte
até que diz adeus
àquele que já de nada dispõe,
e a nada já se opõe.

com arte,
apaga-lhe  as ruas soalheiras
da memória, as recordações,
a mão que a palavra desenha
tudo quanto ama
e o que resta?!
nada de onde lhe venha
- acabou-se a inquietude
por companhia o rumor do vento
e a acalmia da ternura da tarde,
nada importa já, 
cruza o firmamento
leva consigo a saudade.

deixa sobre a almofada os livros antigos, 
os sonhos em branco, deixa os amigos
de tudo despojada, parte como chegou,
sem nada!

natalia nuno
rosafogo


quinta-feira, 15 de junho de 2023

fecha-se a saída...



os girassóis abrem de dia,
aguardam o sol com paixão
já não reconheço o meu rosto
tal foi a destruição...

um grito perdido no vazio
dou comigo 
a defender-me do medo
que só o espelho percebe,
será castigo
que minh' alma recebe?

a criança senta-se num canto
na sua boca um sorriso
outra vez a vida, o sonho
maravilha...

e a morte sem dar tempo
senta-se ao lado
logo a arrastará na armadilha,
fecha-se a saída
é este o fado...

natalia nuno
rosafogo




terça-feira, 13 de junho de 2023

pressentimento...



dantes, havia um fardo de alegrias
que fazia estação no coração
agora, há outonos esquecidos
sem horizontes, e os dias
são como água a correr
das fontes, apressados
no espaço que era vibrante
crescem agora silêncios
é neste instante
que aparecem esquecimentos
e profunda incerteza
que faz da vida um ermo,
um corredor escuro
sem fim, e ao fim,

a vida chegou ao seu termo.

natalia nuno
rosafogo



domingo, 11 de junho de 2023

quando o papel me olha...


crescente lentidão do tempo
neste papel solitário
que me olha e eu ausente
apostei a sorte
não quero lembrar-me da morte
é uma luta sem trégua
o esquecer-me
uma solidão tamanha
a primeira a aparecer-me.

no silêncio
redimida
indago qual o sentido
da vida

reconheço turva minha mágoa
escrevo palavras na água
sinto-me viva.
cada golpe é maldição
mas eu sustenho o coração.

natalia nuno
rosafogo