ao longe avisto a lua cheia
com negros olhos, estrelas semeia,
não lembro meu começo
nem sei como acabo, só sei,
o jogo interrompido que sempre recomeço
faminta e silvestre, e assim partirei...
as mãos pendentes horas a fio
envelhecem as palavras na boca sem uso,
na mente poema sem sol que não desafio
e o esquecimento que se faz intruso,
nesta página branca transparente como água
amarelecem pensamentos como uvas na videira
à semelhança da dor e da mágoa
deste amor que ainda é
em mim cegueira.
trago floresta verde no olhar
passa por ela a minha vida inteira
de improviso lanço versos ao ar
que falam d' amor e saudade,
e que são uma leira
de sementes desta vida, deste entardecer,
que me vêm a enlaçar.
natalia nuno
rosafogo