sábado, 3 de dezembro de 2022

esquecida ainda que não de tudo..




ao longe avisto a lua cheia
com negros olhos, estrelas semeia,
não lembro meu começo
nem sei como acabo, só sei,
o jogo interrompido que sempre recomeço
faminta e silvestre, e assim partirei...
as mãos pendentes horas a fio
envelhecem as palavras na boca sem uso,
na mente poema sem sol que não desafio
e o esquecimento que se faz intruso,
nesta página branca transparente como água
amarelecem pensamentos como uvas na videira
à semelhança da dor e da mágoa
deste amor que ainda é
em mim  cegueira.

trago floresta verde no olhar
passa por ela a minha vida inteira
de improviso lanço versos ao ar
que falam d' amor e saudade,
e que são uma leira
de sementes desta vida, deste entardecer,
que me vêm a enlaçar.

natalia nuno
rosafogo


segunda-feira, 28 de novembro de 2022

recanto da névoa...




cansei de escutar o pássaro em mim
aquela canção outrora pura
que ainda entoa
e me leva à loucura
e faz com que a alma e o corpo me doa.
passo os dias perseguindo uma ideia
levo-a no silêncio até de madrugada
construindo com ela uma teia
onde sonhando, ainda sou amada.

enquanto a memória vai caindo
em escombros
sofrendo do tempo a erosão
a saudade levo aos ombros
 e por dentro a nostalgia no coração.

sigo trémula nesta travessia
é quase noite a tarde vai baça
assim levo meu dia
e o tempo passa...

natalianuno
rosafogo



do canto ao pranto...

canta-me o mar numa linguagem apaixonada
canta e encanta,
julgando-me sua amada
mar íntimo que me sussurra ao ouvido
num lamento, parecendo reza,
em mim brotam os sonhos
no pensamento uma luta acesa
deixo-me afastada do presente
neste mar do entardecer,
à noite com ele me enlaço
e vou até à infância sem me perder,
à juventude veemente
que não quero esquecer.
aspiração a que submeto o coração

trago agora o mar em repouso
e a vida sem luta e sem rumor
onde só a saudade entra, e ouso
arrancar de mim, da morte o temor.

os sonhos são uma utopia
e a vida uma celebração
este meu mar dia a dia
onde me levará então?
talvez ao fracasso da recordação
e do canto ao pranto!

natália nuno
rosafogo