escrevo nas águas
as palavras fogem de mim
alongam-se os silêncios,
despovoa-se a vida numa solidão sem fim,
fico sem saber o que fazer
palavras perdidas, outras na garganta presas
e meu ânimo a ceder, às incertezas.
as palavras eram esperanças sonhadas
estão agora em saudades mergulhadas
hoje, ferem meu pensamento à toa,
em insónias forçadas até madrugada alta
com lembranças antigas
que não sossegam e o coração me magoa.
e a memória enrola e desenrola
vai deixando o peito em alvoroço
como se ainda aquele amor estivesse ali ao lado
o som da sua voz eu ouço
recordo o beijo furtivo roubado
dor, saudade do tempo mais doce da vida!
de olhar perdido, marejado,
onde a saudade fere profundo
quando estas palavras escrevem sentidas
todo o meu mundo.
aturdidas brilham as rosas no jardim
com raios de sol em sua direcção,
sonhadora, iludo-me assim
mas tudo não passa de imaginação.
vivo em mim, sou minha nostalgia,
minhas águas prestes a chegar ao mar
com palavras de saudade a boiar,
que submetem o pensamento dia após dia
ao lugar onde habita o esquecimento.
natalia nuno
rosafogo
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