sexta-feira, 18 de junho de 2021

dói-lhe a recordação...




tende seu sonho
como se tende o pão
e deixa a alma a levedar
em sonhos brancos de luar
mas dói-lhe a recordação,
de tudo e coisa alguma
sorri à menina das tranças
que lembra, como a nenhuma,
dependurada no baloiço
de saia rodada ao vento
- «a menina que inda oiço»
na brisa do arvoredo
num quimérico lamento.

ah! o sonho se esfuma!
gargalhadas caem ao chão
acata o destino e em suma,
dói-lhe a recordação.
uma linha azul côr de céu
na palma da sua mão
mistério que aí se esconde
são seus os rastos escritos,
que a vão levando pra onde
vai vivendo de seus mitos.

natália nuno
rosafogo
09/2003

afectos...



fecha a porta silenciosamente
fica pássaro na gaiola
doente da alma, de amor querer
por esmola...
o pensamento já se afasta
e a saudade é o sentimento 
da vida, mas o amor lhe basta,
sem ele vive no vácuo
ou numa procura constante de afecto,
com timidez nos braços
- que aguardam os abraços.

afeição é só deixar abrir a porta
do coração, 
estender a mão e sorrir
deixar-se misturar nessa estranha
felicidade...porque razão?
porque não há nada melhor que inundar
de amor o coração.
e o modo de entender, é deixar-se amar.

natalia nuno
rosafogo
08/2007
imagem pinterest

quarta-feira, 16 de junho de 2021

entre tu e eu...



faz das tuas palavras o meu sonhar
faz deste dia, um dia perene
de alegria a transbordar,
deixa-me em ti aninhar,
antes que a vida inverne,
deixa que o tempo se detenha
que incendeie o meu sonho
me deixe perto de ti,
e me extasie,
e depois, se vier a morte
pois que venha!
nada mais quero entre tu e eu,
que esse aroma que a tua boca
me traz...o céu!
e depois se vier a morte, tanto
me faz!
só a lua nos vê abraçados
nossos corpos desnudados
nosso amor é como sonho
embriagado em medronho.


natalia nuno
rosafogo
2/2007

terça-feira, 15 de junho de 2021

espelho meu...





 - espelho vulnerável, estamos os dois magoados, feres-me o coração, transfiguras-me o rosto, minas meu pensamento trazendo o esquecimento... mas eu, semeio espigas de esperanças, papoilas de saudade, e lírios de amor, e nas searas deste meu coração só haverá sol, e pássaros que cantarão logo pela alvorada, e tudo serão tesouros que continuarei a lavrar... florescerão em mim sorrisos e, os sonhos, serão de madrepérola, lembrarei sempre meu berço, e a casinha branca à beirinha do sol, onde as minhas gargalhadas se ouviam misturadas com o cantar das rôlas, e assim vou juntando os pedaços que numa ansiedade correm no rio do meu ser...conheço o embaciar do inverno que não tarda em chegar, com sua madura violência, mas o amor será a essência, continuarei a sonhar sem medo de quebrar, apenas a querer agilidade para os sonhos desabotoar...

natalia nuno
rosafogo
imagem pinterest