sábado, 31 de outubro de 2020

como um rio que corre ao mar...



nos interstícios dos meus sonhos
há roupas molhadas nos estendais
e há meninos de pé descalço risonhos
subindo às árvores
procurando os ninhos de pardais
há um cão solitário preso com corrente
ladrando em delírio de contente
o vento e a chuva não dão descanso
e o burrito carregado lá vai  na frente
com seu olhar manso...
cai uma gota nos vidros da janela
o vento redemoinha as folhas caídas
só se ouve o vento e o lamento
das faúlhas humedecidas
e os meninos descalços ao abandono
ainda procuram os ninhos já sem 
dono,
escuto na distãncia, uma voz conhecida
que chama por mim,
numa angústia consumida,
num silencio de luto, só eu a escuto
neste tempo presente o pavor do vazio
um labirinto de memórias fechadas
estreita-se o medo e se descrê
que as lembranças regressem ao calor
da nossa mente,
chegue a desmemória e a dor
e a vida não seja a mesma, inteiramente.

apagando-me neste sonho
como poderei saber se existo
como posso defender-me
alguém tentará compreender-me?
será que me isolo?
ou continuarei sonhadora amante
no vazio da minha existência inquietante?

grande é a minha resignação
enquanto me souber no teu coração.

natalia nuno
nunca sabemos o rumo do poema, só sabemos
como inicia, depois é um deixar, correr, como um rio
que corre ao mar...








quarta-feira, 28 de outubro de 2020

mar da minha vida...

 


era manhã ainda, quando os pássaros visitaram a lezíria das minhas memórias, trazendo uma luz remendada à minha já tão pouca claridade, caí num sono leve, baloicei entre o sonho e a realidade, deixei cair as horas uma a uma como quem nada teme, e o tempo lá me ia levando, quase mistério!... de que serve estar lutando, se não me leva a sério?!minhas mãos vão remendando o sonho, escrevendo versos a eito, que são como beijos roubados ao amor que trago no peito...do céu cai agora uma chuva densa, descem os rios ao mar, eu com uma saudade imensa...ah! valente mar traz-me saudade e o sonho da juventude perdida, mar da minha vida, solto meus ais, pois d'amor nem sinais, põe tino nas minhas mãos, e no meu destino a memória enamorada, pois se ela descaminha, por certo caminharei sozinha, nesta encruzilhada...sem lembrar de mim, e sem saber ao que vim!

natalia nuno

terça-feira, 27 de outubro de 2020

minhas penas...

 

minhas penas, minha alma as sente
contente ou descontente
sobeja apenas
este remar sem parança,
esta lágrima amarga,
saudade e ternura p'la criança,
e dum tempo breve e saudoso
que trago na lembrança.

de tudo o que trago na mente
só o sonho encurta a distância
e mata o desencanto que no peito me vai,
é sonhando que me prendo à vida
que com o tempo se esvai,
a levar-me ao esquecimento!
ah... como lamento,
se tudo tiver de esquecer!
neste silêncio opressor
onde só o coração é recanto onde ainda
existe amor.

gira à minha volta o sonâmbulo vento
meus sonhos são aves distantes
dizendo adeus ao poente, 
sentidamente lamento,
lembranças de instantes
que não voltam,
entro nas sombras das ramas
e a solidão me acolhe
deixo-me a pensar se ainda me amas,
e no teu olhar eu ainda me olhe...

natalia nuno

domingo, 25 de outubro de 2020

no sonho onde aconteço...



anda uma lágrima em busca
dum rosto perdido
e uma sombra persegue passos cansados
a saudade que ora se aproxima , ora se evade
traz-me momentos amados
ali me vi!
pois o passado estava mesmo ali,
e eu sabia, enquanto a noite estremecia
o sonho no meu sereno sono
era apenas sonho,
deixei-me ir nesse abandono
com medo de despertar
e retornar à realidade

no regresso transportei no olhar
as pétalas das margaridas
que havia no pomar, lembranças sentidas,
esperanças no peito nascidas já tão poucas
e na garganta, palavras roucas.
meus olhos prenhes de cansaços
solitários os passos
e esta vida que não ata, nem desata.
calei o grito, a lembrar o sonho
da minha longa estrada

olho a página em branco
como branca solidão e na minha alma
uns versos onde anoiteço
mesmo que o sonho acontecesse em vão
quero voltar a sonhar, onde aconteço.

natalia nuno


arpejos de sol...

 


na minha memória há migrações

de ideias, sonhos em sobressalto
tempestade de ilusões
às vezes são como arpejos do sol
sobre os trigais que ondulam ao vento,
eu um girassol apaixonado
dando asas ao desejo...a que ainda
me tento.
voam ébrias minhas borboletas
num voejar desatado,
instantes em que amo com paixão,
rebelde este meu coração 
cântaro cheio de claridade
e alada melodia da saudade.

espero sempre pelo sonho
que me ajude a viver
que me adoce o vazio, 
que me ajude a suster 
umas lágrimas teimosas,
ou uns tímidos sorrisos,
que me cruze com ideias gloriosas
a que aspiro, para a essência dum poema,
seja de amor ou de saudade, o tema.

natalia nuno