quinta-feira, 25 de junho de 2020

tudo era tão grande aos meus olhos...



tudo era tão grande quando os meus olhos eram de criança, ali no lugar onde caiam os dias sobre as noites agora volto lá, e não oiço o som do vento, nem a água que cantava nas fontes, nem o cheiro do pão no forno que existia p'la ruelas da aldeia, mas, tudo volta ao ponto de partida, nem a morte me afastará...já pouco resta dos meus passos gastos...resta apenas o cheiro da aldeia, e a criança  feliz que corre por ela de arco na mão... isolada dos dias, sobre um céu de esquecimento quantas vezes sonharei ainda, saudar a Primavera que se distanciou, de mim?- as palavras são pássaros a planar em meu coração, e descem ao meu rosto rios de água cantante entretendo meu sorriso...a saudade é esse sentimento misterioso sempre eterno que me vai deixando cada vez mais distante de mim, fazendo-me lembrar uma sombra de outrora...

natalia nuno

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segunda-feira, 22 de junho de 2020

a luz que o sol distribui...





a luz que o sol distribui tão generosamente tudo gera, é ele o olhar da manhã que aquece o dia e esmaga a noite, adoça a vida, com sua mão quente percorre nosso corpo, e depois corre disfarçado por entre as sombras e vai deitar-se por detrás do horizonte, deixa a saudade, o cansaço, os sentidos adormecidos e a luz se fecha. As rosas respiram o orvalho da noite nos montes tão velhos como o dia e, a noite faz-se paz... até que ensolarada nasce a vida de novo no dia que clareia...nas telhas partidas dos telhados já entram raios, é o sol que abre as pestanas dizendo bom dia à terra, o ar do campo é lavado e saudável, acordam os girassóis, não há tempo a perder que o sol vai caindo calmo e tranquilo fechando os olhos...lá cai mais um dia... espero há horas calada, pelo amanhecer da noite, mais uma tarde que se despede, os sinos tocam as trindades, de repente lembro as horas e é então que sinto no vazio um novo sonho, cheio de novas esperanças no sereno da noite, faço aceno ao dia que parte, a solidão é difícil e profunda, tão próxima estou do passado e tão ausente do presente, dou dois passos em frente e ando só por andar não por ter pressa de chegar. invento sonhos a vida inteira, trago o coração doído, o tempo sempre à minha beira e, eu pensando tê-lo perdido.

natalia nuno

domingo, 21 de junho de 2020

uma fria labareda...


uma fria labareda ia morrendo e ela de janela aberta de par em par, olhava o espelho e encontrava a resposta que tanto queria ignorar, o rosto persistia mas sem vida... ferida, cresciam-lhe no olhar lágrimas esparramando-se num longo pranto...o tempo sentenciando sem dar trégua, deixava-lhe mais uma ruga taciturna e revelava-lhe um rosto que não conhecia. alucinada, o coração ficava uma pedra branda que chorava por dentro, a sua face ali retida era como um enigma, uma sombra, e nunca a sua inteiramente...recordou-se jovem, com pena nada mais quis ver nem saber, espreitou o mundo, desdobrou um sorriso triste e estava ali, pronta a quebrar o vidro cego, era ela afinal... como um sonho que se esfuma, na mesma janela com cortina urdindo sonhos, os mesmos que trazia lá detrás de quando era menina...

natalia nuno
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