sexta-feira, 19 de junho de 2020

fico à espera...


fico à espera que o vento me encha as velas de coragem, que retire as nuvens da tempestade, me deixe a mente tranquila e o coração corajoso, e no meu âmago uma fonte de doçura para poder navegar no meu quotidiano em paz... neste rio infinito que um dia me canta uma canção melodiosa e no outro me deixa a alma inquieta, rendida e numa situação dolorosa, fico a flutuar à tona, e quase parece que a vida me abandona... marés infinitas, e eu presa nas ondas deste tempo morto, onde só o vento rumoreja e um pássaro canta uma estranha canção, triste e melancólica, na minha mente atulhada de pensamentos...embrenhada, esqueço a sordidez do mundo e amanhã voltarei a renascer das cinzas...

natalia nuno

quinta-feira, 18 de junho de 2020

que difíceis se fazem as palavras...



que difíceis se fazem as palavras quando queremos falar daqueles dias em que o sol girava nas nossas mãos e, a vida tinha um som distinto e tomava seu rumo dando-nos felicidade, deixou-nos um sabor nostálgico, horas talvez mais solitárias, mas ainda assim o sorriso sempre aflora e a saudade que abraçamos, nos traz bem estar...hoje estamos mais alheios ao rumor da vida, é maior o silêncio que nos toca...mas ainda entrelaçamos as mãos com a emoção da juventude, enquanto raios de luz se dissipam no nosso horizonte...somos viajantes da memória, lembrando encontros furtivos, cartas d'amor e sonhos loucos vividos por nós nesse Setembro distante, quando as primeiras folhas caindo ao chão falavam carinhosamente lembrando-nos que tudo acaba e como tal vivêssemos os momentos de poesia, saboreando a chama para não deixar que se apagasse...hoje gasto a caneta e as palavras a recordar, e fico assim enquanto a morte não chegar...

natalia nuno

as manhãs sabem sempre a fruta...


as manhãs sabem sempre a fruta e a vida vai fluindo, o dia me acolhe logo que o sol paralisa em frente à minha janela, enquanto isso, vou queimando todos os meus tempos a procurar a força que ainda me é precisa....para ser feliz recordo, dirijo o pensamento para novas distâncias para lá do horizonte, sonho como se fosse audaz primavera o tempo q' inda me resta...
levo os passos encaminhados e palavras que me bastam mesmo à medida do meu caminho, levo também tudo o que sonhei, e engendro sonhos futuros lá pelos riachos da tarde... não levo pressa, mas, o meu olhar voa com a audácia dum relâmpago antes que o tempo o feche de vez e tenha de chorar a vida...a noite não tarda envolta num silêncio macio, as quimeras fogem-me envergonhadas a vida fica submersa na solidão...e o tempo range detido nos meus olhos...


natalia nuno

terça-feira, 16 de junho de 2020

recados do vento



recados trouxe-me o vento
harmoniosos como frescura
quem sabe em algum momento
surja no peito ventura
já que a vida se apouca?!
não seja a felicidade mouca.

que o amor ande comigo
p'la mão
seja a tarde que me alumia,
a estrela da noite
que me extasia...

nas horas de mais um dia
toque com ternura meu rosto
num manso jeito
toque meu peito,
onde ainda governa a esperança
e ainda moras...
no coração e na lembrança
no pulsar das horas.

que nasçam flores
a tempo de ver,
haja chuva sol ou ventania,
a tua voz será a melodia
o que vem à lembrança
e que a faz de amor sofrer,

pode então acabar-se o tempo
estou pronta p'ra ser esquecida
a vida é rio em movimento
e eu sou flor emurchecida.

natalia nuno
rosafogo


domingo, 14 de junho de 2020

silêncio e esquecimento...





o silêncio e o esquecimento andam perdidos no tempo,num solitário jardim que é o teu corpo e o meu, terra de aromas que retorna de quando em quando a sentir o alfabeto dos pássaros, o sorriso das flores que chega aos nossos olhos, a luz das estrelas que nos enlaça, e o sol com lânguidos fulgores que nos tatua a pele ...passam por nós andorinhas com acordes de violino no ar puro da manhã ainda adormecida, chega em nós o outono com uma pincelada de sol, sorrimos à luz que nos acaricia e às nossas mãos chega o meio da tarde, porque o meio dia já se foi numa rajada de vento, assim se define o que existe entre a felicidade e a tristeza, amo-te mesmo no silêncio e esquecimento, e sonho-te na inteira juventude, sonho este que é remota história, velho sonho de ébrias estrelas que brilharão no adeus à tarde, enquanto os arvoredos levarão nossos medos, deterão o tempo e desdobrarão a presença da cor no nosso amor...serás o último pássaro levado nas ondas do vento até às sombras das ramas, e eu esperarei por ti entre os abetos para ouvir-te dizer, que para sempre me amas...

natalia nuno

juramentos...


teus juramentos de amor
são seara de trigo ondulante
são lírios roxos já sem cor
passa o vento passa o instante,
já que amar é   bem querer
germina o amor em aroma e cor
quem dera de amor morrer
apagar-me num doce estertor.
-ser desditosa e não ser
ter dores mas não ter dor...

nos teus braços em mil pedaços
em gemidos de prazer...
delírio estranho nos sentidos
dentro de mim a  nascer!...
prazer que a dor faz em gemidos,
ou apenas fruto apetecido
ou será este um imperfeito amor
segredos ao meu ouvido?
-ser desditosa e não ser
ter dores mas não ter dor...

é triste ir pela vida com quem
nada mais pode oferecer
ficarmos só, mesmo não morrendo
ninguém,
com tanto caminho por percorrer
nos teus braços bem abertos
procurarei outra estrada
os longes serão então pertos
serei uma rosa toldada, amor
-ser desditosa e não ser
ter dores mas não ter dor...

-a dor de não ter amor...

natalia nuno
rosafogo