quinta-feira, 12 de julho de 2018

sobras duma lágrima...


na esquina, há sempre uma música triste
duma flauta que não sabe que a luz existe
ecoa p'la noite adentro entra no coração,
e é tão triste como eu
atormentada com a escuridão do céu.

em noite que não tem lua,
noite desolada sem luar
espero-te à esquina da rua
enquanto a flauta tocar.

já tenho a porta cerrada
não vou ouvir a flauta mais
deixei lá fora meus ais
ouço-os p'la janela entrefechada

trago agora a alma estranha
e a vida já sem vida
a palidez meu rosto banha
calou-se a flauta... voltou a lua
pranteiam estrelas distantes
eu de feridas abertas,
deixaste meus sonhos errantes
já nem sei se sou tua
já não ouço o doloroso concerto
à esquina da rua é agora um deserto.
vou esconder este meu pesar
esquecer os murmúrios melodiosos
já não quero sentir nada
nem por ti trazer meus olhos chorosos.

natalia nuno
rosafogo
poema escrito 2002
um pouco modificado para poder ser
partilhado.

terça-feira, 10 de julho de 2018

não há saida, não!



está o amor no mosto
logo será licor puro
que se bebe com lentidão
juro, que embebedo meu coração
vai subindo no sentimento
senta-e na escada do olhar
e é vê-lo com assombro
em bebedeira endoidar...
a aguardar da partilha o prazer
e o desejo adivinhado
de colheita bem frutado
e o desejo de o querer

seduzidos e sedentos
desta vontade adivinhada
nascem outros sentimentos
prontos a fazer escalada
desprende-se a alma e voamos
nem precisamos voltar
e há estrelas a pulsar
enquanto nos amamos

e tudo isto se passa sem conta
nem medida e o amor
é o licor de planta desconhecida.
que embebeda docemente
uma anestesia diferente
para a qual não há saída.

natalia nuno
rosafogo