quinta-feira, 3 de abril de 2014

Para quem escrevo?




Olho-me ao espelho e
a interrogação fica na boca
porquê esta pressa louca?
Há sempre uma hora a morrer
um dia a desaparecer
e eu aqui entre os outros
julgando-me forte
olho as minhas pegadas sobre a terra
caminho, sonho
e esqueço a morte.

E escrevo para quê?
E para quem escrevo?
Certamente para quem lê!
E para quem não lê,
e todos são uma multidão.

Para ti, são as palavras
que sem quereres lê-las
te vão entrando no coração,
se não te forem indiferentes
terás a minha gratidão
gratidão dum
coração que não pára
como o mar,
pois há nele memória e solidão,
enquanto o poeta caído
continua a sonhar...

Escrevo a palavra quotidiana
e o que digo é pouco ou nada
falo do tempo e da saudade
nesta língua por mim amada.

natalia nuno
rosafogo
imag net


terça-feira, 1 de abril de 2014

apenas sonho...


O vento sopra-me no rosto, olho as ondas a bater lentamente, cadenciadas, neste dia cinzento. Não ouço vozes nem risos, conto os minutos precisos para ver o anoitecer, ao redor continua tudo mudo.
Cresce a relva sob os meus pés, sou a única a olhar o mar, o vento move-me o cabelo e me acaricia de novo, e assim, passa mais um dia. 
Irá chover? Não...o vento dispersa as nuvens, e o meu pensamento é um pedaço de céu azul onde as palavras se agitam, como peixe fora de água. Voam mosquitos na luz do entardecer e eu fico impaciente por te ver.
Atiro uma pedrinha à agua e, vou esquecendo a mágoa. À memória a família, a casinha onde nasci, a porta da entrada e as flores que em frente nascem, lá estou eu, cabelos negros, com meu vestido azul-marinho, brincando no meu cantinho, com uma boneca de trapos.


natalia nuno
rosafogo