sábado, 13 de outubro de 2012

a vida é bela!




os melros cantam
de forma exaltada
no peitoril da minha janela
e eu olho-os extasiada
logo à primeira hora do dia
a vida é bela!
a luz incendeia
até as palavras que escrevo,
luz efervescente,
como luz de candeia
inocente,
olho atentamente
o saltitar tão próprio da garotada,
a sua extraordinária alegria
o seu olhar de esperança
os gestos que são poesia
e minha alma sobe á copa da árvore
altiva,

sinto-me viva!

vou magicando
enquanto um gavião
se passeia p'lo céu,
lembrando,quando cheia de audácia
trazia a vida p'la mão.
Passaram mil anos de solidão
pergunto a mim mesma o que sucedeu
à pequena de cabelos despenteados
que olhava o céu de olhos pasmados.

agora marejados só de a lembrar...

no esplendor desta manhã
cantam os melros na minha janela
o dia pertence-me
meu coração está de sentinela
procurando a felicidade,
repousado e em tranquilidade.

o sol é agora côr de laranja
os melros empreendem o vôo
palpitantes se elevam no ar
desejosa de os seguir, vou
ao sonho implorar...

as horas passam com inaudita
velocidade
elevo-me da escuridão para
a claridade...

quero ser feliz!


natalia nuno
rosafogo



quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Mulher inteira!




trago saudades de ontens
hoje no peito
e adormeço no passado
num sonho perfeito
acordo e na realidade
não há nada
apenas a sombra da noite
e a saudade
e a aceitação de mais um dia
de existência parada

canto á chuva no meu sonho
todas as horas, são horas
de sonhar
horas de fazer, de decidir
de chorar ou rir
saber de experiência feito
trago saudades de ontens
hoje no peito

as rugas me circundam
os olhos
romantica trago ainda
uma balada
de esperança,
p'lo vento embalada,
o cansaço marca as olheiras
mas o sonho me faz viver
e apesar das canseiras,
eu me sinto,
ainda inteira
Mulher!

há dias em que a alegria
em mim esfuzia
em que me sinto enamorada,
outros, os sinto esboroar
em pequenos nadas,
meu tempo deixa de existir
vou fazendo a travessia
enquanto aguardo o porvir
trago saudades de ontens
hoje no peito.

Mais um dia
imperfeito...!





terça-feira, 9 de outubro de 2012

na terra do poema...



na terra do poema
tudo se cria,
manobra, dobra, redobra,
nela existe o enguiço,
o feitiço,
o sempre, a memória, a saudade
o presente, o acontecido
a alegria o rítmo multicor
o amor...

na terra dum poema renascido,
ventura e desventura
a esperança retornada
cachos de ouro da infância,
dramas sombrios da idade avançada
o correr exaustivo dos dias,
lágrimas por secar,
esperanças e desesperanças,
tristezas e alegrias
orvalhadas e luar.

na terra do poema
falo eu e falas tu
do chão de primaveras
do outono e seus odores
dos sonhos e das quimeras
de madrigais e amores.

fala-se de estrelas e luas minguantes
de sonhos de alfazema
e amantes,
manhãs de pássaros ...e assim,
na terra do poema
nasce mais um  de ti e de mim!

na terra do poema
há almas tocadas de emoção,
lábios quentes que beijaram,
homens e mulheres que amaram,
ternura tanta a que não resiste o coração.

na terra do poema
tudo se pode colher,
encantos, aconchegos,
linguagem delicada saída
do milagre dos dedos
dum homem ou duma mulher
esquecendo que o tempo lhe vai
roubando a vida

a poesia é uma beldade
todos lhe atribuímos valor
se não fôr escrita com amor?!
vale menos de metade...

rosafogo
natalia nuno


segunda-feira, 8 de outubro de 2012

a barca do sonho




hoje recolho-me com a lua
olho-me mais uma vez
no espelho das águas
e pergunto ao barqueiro
onde deixou minhas mágoas
e meu coração desgarrado,
volvendo assim olvidado...?

ah!...meu rosto não tem nada
de excepcional,
mas a saudade ao olhar-me,
faz-me mal,
há quem diga
que a face já foi beldade,
hoje resta a saudade,

da frescura e mel da minha boca,
do coração á flor do peito,
nardo a florescer...idade louca,
canteiro de amor perfeito
resta a saudade, até dos cardos
do caminho
do sol ardente,
da sombra dolente,
hoje sou o reflexo de alguém
na tarde que vai morrendo
e a noite aí vem...

hoje sou como a voz do sino
que ecoa peregrino
como se lhe sobejasse a dor,
ou serei sangue sem côr?
serei silêncio ou rumor?

trago a voz adormecida
depois de tão largo tempo
e minha carne que era florida
adormece sem lamento
Mas eu sei!
que já tive o que não mais terei,

aquieto o cansaço dos dedos
hoje me recolho com a lua
esqueço o sabor amargo
e os medos
e minha alma se apazigua.

natalia nuno
rosafogo












sei o que quero dizer...




palavras hesitantes
versos mal feitos
mãos sem entusiasmo
sempre a piorar,
agonia nestes instantes
o coração a querer tudo
impedindo-me de rir ou de chorar,
tudo acha justo e injusto,
o pensamento parado
e o tempo, sem parar...

além rio vejo a colina
e um carvalho centenário
relembro o tempo de menina
e viro a página ao calendário

o tempo é escasso
não quero acelerar o passo,
sei o que quero dizer,
mas não digo
para não enlouquecer,
pela tarde houve sol
agora surgiu o vento,
acalmei meu pensamento
e a desordem do coração,
trago na mão
o peso da hora...
a terra que amolece,
a noite que enlanguesce,
meus sonhos em fiapos e,
as esperanças em farrapos,

a um verão curto
um outono prolongado,
um mar agitado,
estrada escorregadia,
ah!...mas aguardo com ânsia
por um novo dia.

os pássaros entoam hinos de vida
e eu sou de novo riso e canto
extasiada olhando as águas
embevecida
com o encanto
embriagador
desta manhã de seda pura
onde o tempo me faz promessa
de amor,
neste dia que começa...

rosafogo
natalia nuno
imagem da net

S. Pedro do Sul 26/9/2012