sábado, 6 de novembro de 2010

FLORIRAM PALAVRAS NA PALAVRA












FLORIRAM PALAVRAS NA PALAVRA

Este poema carrega a saudade
Adormece e acorda comigo
É um vento forte que corre na tarde
E p'la noite é insónia ou castigo.
Este poema é um regato alegre a serpentear
É uma seara de trigo a crescer
É a saudade que me faz lembrar
O cheiro dos laranjais a florescer.

Este poema sou eu às árvores trepando
Sou eu menina descalça vadia
Que corre  na carroça do tempo, levando
Cabelos ao vento, barriga vazia.
Este poema onde me fico a relembrar
Os caminhos e os sonhos que eu desafiei
Volta que volta à minha volta a girar
Poema da minha alma que não calarei.

Poema que sinto que me persegue
Me corre nas veias e a palavra abraça
Poema que quer que à saudade me entregue
Um cântico, um grito. um amor que não passa.
Lembranças, anseios tudo ele tem
Poema do querer que sinto de lhe querer bem.

rosafogo
natalia nuno

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

TAL COMO FÉNIX


TAL COMO FÈNIX
Perseguem-me sonhos que invento
Abrem-me portas para um prado verde
Persegue-me o tempo e o esquecimento
Sou sombra de negridão que na noite se perde.
A luz do dia partiu, se escondeu.
E eu sou uma história, uma lenda
No tempo remoto que não aconteceu
Que outro dia que venha, desvenda.

Arranco  meus suspiros das funduras
Dessa lenda que alguém ouvirá falar
Atravesso a vida sempre às escuras
Desenho em mim asas mas não sei voar.

Levo na memória como abrir a porta
E a palavra Poesia, faço dela a chave
E vou pela sombra, sou sombra quase morta
Meto-me no meu casulo, renasço nova ave.

rosafogo
natalia nuno

PARTO SEM DESTINO













PARTO SEM DESTINO
Parto sem destino
Dobro a última esquina
Faço aceno ao Divino
Recordo quando era menina
Meus passos tristes e lentos
Virgem de sonhos e pensamentos.

Faço pequeno balanço da vida
Alimento esperança, nem sei de quê
A memória levo já descolorida
E a luz nos olhos já mal se vê.
Esqueço o encantamento e a emoção.
Trago comigo a nostalgia da infância
Talvez me chegue a madrugada ao coração.
Surja alguma estrela, nesta febril ânsia.



Levo comigo o tudo e o nada
Encho-me de liberdade, como pombo solto
E se alcançar a madrugada?!
Não volto!
Parto-me na lonjura
Esqueço tudo no meu olhar caído
Já de mim não sinto pena, só loucura,
Pena do tempo eu ter perdido.

Já não tenho a força da semente
Morro nestas palavras e sua inquietude
Neste sonho reposarei serenamente
Levo da vida saudade da Juventude.


natalia nuno
rosabrava

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

O POETA QUE VIVE EM MIM












O POETA QUE VIVE EM MIM

 Este tempo em mim maldito!
Me deixa como ave lenta
Despida de penas
E palavras em que não acredito.
São apenas...
Dores que o Poeta inventa!
Mas Poeta é livre como o vento
Em seus versos canta, sofre e respira
Seu céu ora é azul, ora cinzento
E vê e ouve o que mais ninguém viu ou ouvira.

Grande é a sua sede de viver
Inventa histórias de memórias esquecidas
Saem-lhe palavras para oferecer
De utopia suas idéias tráz vestidas.

Não controla as emoções, é a verdade
O Poeta vagueia pela loucura
Vive falando da saudade
Faminto de sonhos e de ternura.

Às vezes mais morto que vivo
Há nele sempre um mar de esperança
E um velho menino adormecido
Sonhando ser ainda uma criança.

rosabrava

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

NÃO HÁ PAZ NA LEZÍRIA














NÃO HÁ PAZ NA LEZÍRIA
Estão a acordar D. Toupeiras
- Porque o Inverno já se vai
Já refizeram suas leiras!
Ai Meu Deus! Uma lá cai!

Não vejo nada comadre
Pare lá de dar patada!
-Desculpe lá ó compadre
Que isto está uma poeirada.

D. Escaravelho grita alto
-Aqui quem manda sou eu!
D. Besouro em sobressalto...
Mas afinal que lhe deu?

Já daqui embora me vou
- Já lá vem D. Cotovia!
Se sabe que aqui estou?
Já se me acaba o meu dia.

Nem D. Poupa hoje descansa
Anda pela lezíria, louca
Não lhe sai da lembrança
Que é Inverno e a comida pouca.

E ali na margem do rio?
Tagarelas vizinha com vizinha
-D.Alvéola cheia de frio!
Pede o xaile à D.Milheirinha.

Pousa D.Borboleta na flor
Sempre batendo sua asa
- Não vá o Sr. Açor...
Lembrar de sair de casa.

Enfim D. Toupeira sai suja
Nem vê bem por onde passa!
À espreita está D. Coruja
Que finge até achar graça.

Se a noite não espreitasse
E os gritos não ecoassem no ar
Talvez ainda me sujeitasse
-A ir ao arrozal jantar!

Isto é conversa da Tarambola
Que ainda hoje não comeu nada
Amanhã tem de ir p'ra Escola
-Sem a lição preparada...

Lá está D. Rã à escuta
É já manhã!
E lá vai ela à labuta.
Hoje vai ao arrozal
Sim! Porque afinal

Das lezírias é Senhora!
Todos a conhecem por ali
É verdinha, até um pouco loura.
E canta bem que já ouvi.

D. Perdiz anda ali perto
Cheia de ternura e Amor
Não pode andar em campo aberto
Está um dia de calor.
Tráz os filhotes consigo
E D. Àguia é um perigo.

E nas àguas do rio?
Há um peixinho brincalhão
Que vai numa correria
Atrás da mãe e do irmão

E porque era uma vez
A história não acaba aqui!
Quem sabe um dia talvez...
Lhes conte mais o que vi.


natalia nuno
rosabrava

Dedicado a todas as crianças do Mundo.

NÃO PRECISO DE CAIXÃO














NÃO PRECISO DE CAIXÃO
Com o tempo surge o desanimo da vida
Até o corpo não resiste às mudanças da lua
E a tristeza fica em mim retida
Nem ouço os passos das gentes na rua.
A cabeça parece a mó dum moinho
Andando sempre à roda
Das coisas que se aproveitam, nem adivinho
Tudo parece fora de moda.
Assim como estes caixilhos da janela!?
E até a ribeira ao longe que avisto por ela.

Trago secos meus gestos
Um mar dentro da minha cabeça
Do meu sol, já sobram os restos
Fecho a janela antes que adormeça.

Choveu no meu corpo inteiro
E de lama desfeita me deito
Olho a última vez os pássaros, respiro da giesta
o cheiro...
Deito a memória no lastro do peito.

Uiva o vento com alguma intensidade
As gentes vivem num arrastar pesado
Arrastam-se numa pesada saudade!?
Que do presente nada possuem, só o passado.

Por que há-de a Vida condenar-me
Até sonhando me traz inquietação
Há-de vir a morte roxa pegar-me!
Pois me entreguem à terra,
Não preciso de caixão.


rosabrava
natalia nuno

terça-feira, 2 de novembro de 2010

VERSOS NÃO VOS TRAGO NÃO













VERSOS NÃO VOS TRAGO NÃO

Já o combóio não pára
Aqui, na minha estação.
Já esta ferida não sara
A que trago no coração.

Vou p'ra outro apeadeiro
Quem sabe tenha mais sorte
Sofro dores do mundo inteiro
Já não há dor que suporte.

Viajo para parte nenhuma!?
Que o combóio não pára aqui
Não vos levo notícia alguma
Mitigo a sede por aí...

E por aqui ando à mercê
O olhar em busca duma certeza
No coração chama que ninguém vê
Um tempo vencido, a alma presa.

Sonho que não acaba, de resto!?
Àgua mole, teima até que fura.
Sou poeta escrevo modesto...
Na poesia esvazio a ternura.

Até a angústia me perguntava
Que é da Vida? Que vida ausente!
Transformo em luz noite cerrada
Desdenho da ansia da mente...

O Poeta versa e rima...
Ou não rima e versa apenas!?
É sempre poeta inda por cima,
Ri e chora das suas penas.

Vou chegando ao apeadeiro
Só trago comigo meus escolhos
Vou limpar o rosto primeiro
Lágrimas saudosas dos olhos.

Não pára o combóio na estação
Sigo a pé, vou confiante...
Versos, não vos trago eu não!
Trago sonho de pobre viandante.



rosabrava
natalia nuno

TROVAS Á SAUDADE

















TROVAS Á SAUDADE

Minha saudade se cansou
De tanto me apoquentar
Com saudades dela estou.
Saudade...podes voltar!

A saudade disse-me adeus
E até a Vida já me voa!
Nestes versos que são meus?!
- De saudade canto à toa.

Por onde passo deixo aroma
Da saudade que anda no peito
Saudade com saudade é soma
- Desta saudade sem jeito.

- Já não encontro saída!
- Já toda eu me embaraço,
-Troca-me as voltas a Vida,
-E eu à Vida troco o passo.

- Mas se a saudade voltar!?
E me disser quem ainda sou?
O meu coração vai ter lugar
P'ra saudade que o abandonou.

natalia nuno
rosafogo

CANTO DE DOR















Esta poesia foi feita para fazer parte do Cancioneiro de Mário Osório.


CANTO DE DOR

Meu canto de melancolia
Repassado de comoção...
Trago a saudade, ela vazia!
A alma a exaurir de paixão.

Ò tormentas do coração!
Que teimais ocultar de mim?
Contai-me, dizei-me então!?
Porque estou sofrido, assim!

Que pobre coração este meu?!
Que debalde procura abrigo
Era seu bálsamo o amor teu!
Mas também era seu castigo.

Para que hei-de chorar-te?!
Flor minha amada em botão
Esperança, deixarei amar-te,
Já se me inquieta o coração.

Viva e ardente é a saudade
Volvidos assim tantos anos
Do Sol poente és Magestade
Da m'alma sofridos desenganos.

Teus olhos eram m'ha esperança
Tua boca ondulada fermosa ceára
No peito só restam lembranças
Pérola, que tanto eu já amara.

Hoje sobre tua sepultura
Um punhado de lírios à sorte.
Chorarei aí minha amargura!
Rompendo em brados de Morte.

Que mais éreis que mentido Amor?
Que desonrásteis meu leito?
Agora num impulso de pudor?!
Meu coração morre desfeito.

O agrilhão da minha dor?!
O meu pesar e desgraça...
Deste tão desgraçado Amor
Da lembrança não me passa.

rosafogo
natalia nuno

CANTIGA D'AMANTE










Esta Poesia foi criada para fazer parte do Cancioneiro de Mário Osório


CANTIGA D´AMANTE

E ai Deus me fez sabedora
De cantar-vos ao coração
Aqui me tendes nesta hora
Senhor, se me derdes atenção.

Quisera eu ser trovadora
Por vós meu bem amado!
Morrerei a qualquer hora!
Deixo aqui dito e jurado.

Mas ai coitada de mim!
Que de tanto sofrer cansei
Em boa fé aqui eu aqui vim
Mas à míngua de amor me irei.

Trago o peito desagasalhado
Vou morrer por vós meu bem!
Se quiserdes de bom grado
Aceito a morte que lá vem!

Saberá Deus, não é por mal
Todo este Amor, que vos quero
Que outra melhor assim espero
Não vos seja como eu, tão leal.

Se olhardes os olhos meus?!
Vereis assim Senhor vos amei!
Com os vossos, quiz ir aos Céus
Sem os ter dizei-me: o que farei?



natalia nuno
rosafogo____

FALEM, FALEM...


















FALEM, FALEM...
Para quê tanta vozearia?!
Se estou à beira de quase nada
Sómente a solidão e mais um dia
E o velho abrigo da memória cansada.
Já o tempo em mim se perdera
E eu sorri mesmo com o dia feio
Mas o tempo só tristezas gera
Esqueço a mulher que se escondeu p'lo meio.

Espreito a gaveta dos retratos velhos
Como cisne, chega a hora, choro e canto.
Lembro a outra que se via aos espelhos,
Já a noite me cobre com seu triste manto.
Trago meus pulsos cansados
Dias partidos, gastos de sentimentos
Palavras gastas, gritos estrangulados

Caminho a passos lentos.
Sinto a morte a crescer lentamente
No meu corpo e eu ainda viva
Para quê ao meu redor tanta gente?!
Se não há gesto, nem embalo que me sirva!?

Falem, falem, digam o que lhes aprouver
Chamem-me louca, ou sombra de mim
Que hei-de ouvir-vos enquanto puder
Pois estando viva... me sinto morta, sim!

rosafogo

domingo, 31 de outubro de 2010

AO TOQUE DOS SINOS














AO TOQUE DOS SINOS
Numa vida onde nada se passa
Olho o papel com os olhos do coração
Tudo o que p'lo pensamento perpassa
Deixo escrito, mas nem todos me saberão.
As semanas se somam incessantemente
E eu marco passo
Na memória agasalho a esperança repetidamente
Retendo tudo o que faço e não faço.

Todos os instantes
De encantos e desencantos
Apago meus sustos, deixo-os distantes!
Obrigo o destino a torcer
Às vezes me olho de soslaio
Lembro que parar é morrer
E nesse marasmo não caio.

Me surpreendo e me recuso
Fico com a nostalgia a rondar-me a alma
Exorcizo fantasmas, das forças abuso
Calo a tristeza e me fico, calma.

Calo a saudade que me invade
Me deixa cansada e de voz rouca
Pego na caneta com mão suave
Desdobro detalhes, que são coisa pouca.
Inspiro-me nas badaladas do sino
E torço, torço o destino.