palavras escritas com o coração, em qualquer verso está vazada a saudade poética que a memória canta. A fascinação pelo campo, o idílio das águas, a inquietação o sonho, a ternura o desencanto e a luz, toda uma bagagem poética donde sobressai o sentimento saudade... motivo predilecto da poeta. visite-me também em: http://flortriste1943.blogs.sapo.pt/
sábado, 9 de outubro de 2010
TROVAS(Campesinas)
TROVAS (Campesinas)
Colhi um cesto de amoras
Vermelhas lá no silvado
Até me esqueci das horas
Só de te ter ao meu lado.
Olhei então as amoras
Desejos havia à solta
Esqueci-me até das horas
Por te ter à minha volta.
Olhei teus olhos nos meus
Fiozinhos duma nascente
Brilharam os meus nos teus
No caminho me fiz gente.
Esqueci-me até da fadiga
Ao olhar-te ao meu lado
Cantastes-me uma cantiga
Escutei-te mas com cuidado.
Apanhei pedaços de estrelas
Das que me deste do teu céu
Colhi amoras mas ao colhê-las
Deu-me a fome... ai se me deu!
Nas tenras folhas do milho
Fui escrevendo, sonhos meus
Regressei envolta em sarilho
Porque acreditei, meu Deus?!
Promessas, promessas são!
E tudo ouvi da tua boca
Entreguei-te meu coração
Mas tua paixão era pouca.
Quadras populares, escritas na aldeia em 2002.
natalia nuno
rosafogo
PERDIDA
PERDIDA
Quando a aurora vier
E por aqui não me encontrar
Digam-lhe que vou partir
P'ra me esquecer!
Que não irei voltar.
Esperança pelo chão espalharei
Na esperança de não me perder
E só eu sei, o que passei,
Vendo os anos a correr.
Levarei saudade pela mão
Enquanto no peito,
bater o coração.
Levo também algum desgosto
Avivado nesta hora
Nas rugas deste meu rosto
Vou andando, vou-me embora.
Levo também um gemido
Que chorei algum tempo atrás
Reguei meu rosto sentido
Quero esquecer e não sou capaz.
Cansei de palmilhar caminho
De tanto sol e vento nele havido
De tantos dias ter cumprido
Cansado meu coração é velho moinho.
Colhi rosas, cardos e também espinhos
E hoje ao relembrar sinto saudade
Cansada de palmihar caminhos?!
Ainda assim, grangeei a liberdade.
Meus passos me atraiçoam já
Me estorvam de regressar e partir
Quando a aurora vier por cá?!
Digam-lhe que fui...
para sempre dormir.
rosabrava
natalia nuno
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
TROVAS (1º BEIJO)
TROVAS (1ºBeijo)
Ai, o beijo,o primeiro lembro
Até a lembrança dele demora
- Foi ousado, era Setembro!
- O atrás, é desejo agora...
Ai,senti bater meu coração
Dentro do peito num anseio
- Só de pensar em tua mão
Dentro da roupa em meu seio.
Ai, a medo dei-te o primeiro
Daí a pouco dei-te o segundo
Fiz do teu colo travesseiro
E esqueci o resto do Mundo.
Ai, tanta dor se apregoa...
Tanta dor! Tanta fartura
Mas aquela dor que doa?!
Só do Amor a desventura.
- Ai, a mão dum trovador
Que vai escrevendo embalada
A ternura dos beijos de Amor
Quando a Vida já leva cansada.
natalia canais
rosabrava
FOLHAS AO VENTO
FOLHAS AO VENTO
Folhas rasgadas em pedacinhos
Cartas dilaceradas por emoções
Silenciosos foram os caminhos
Que puseram a bater estes corações.
Ah...mas hoje é fraca a minha vontade!
Faz tempo não corro atrás do carteiro
Meu passo já me proíbe e até a saudade!?
Vive a esbracejar, chegando primeiro.
Pedaços são levados pela ventania
Dispeço-me destes restos de papel
São agora folhas caídas... e eu vazia,
Me contrario e endureço, amarga como fel.
Mas antes que a voz me falte de todo
Ou se vá o meu entendimento!?
Direi de viva voz, e a meu modo!
Que já é de paz este meu lamento.
rosabrava
quarta-feira, 6 de outubro de 2010
A LÁGRIMA MOLHA A FOLHA
A LÁGRIMA MOLHA A FOLHA
A lágrima molha a folha com saudade
Ela me sobe do coração ao olhar
Despediu-se faz tempo de mim a mocidade
E as primaveras que o tempo soube roubar.
Agora o sol se põe, pálido, triste, quase distraído
Deixando-me prisioneira a pensar, em tempo ído.
Longe, como quem impede minha razão
Querendo deixar-me num poço às escuras
Onde meus olhos se perdem nos rios do coração
Procurando ainda por restos de ternuras.
Ah... eu sei que não escrevo com finura
Nem ponho pó de arroz no rosto
Mas tenho ainda do povo a ternura
Falo tal como ele, tanto a meu gosto.
E há em mim uma torrente de vida
Imensa, onde o sonho é poesia e se faz rio
Os sentimentos são riso, ansiedade, luz embravecida
São bagos de romã, amadurecidos em campo bravio.
rosafogo
natalia nuno
POBRE POETA!
POBRE POETA!
O passado se afasta de mim rápidamente
Já pouco dele sei, tão pouco se vê!
Sei que faz parte de mim,estou consciente
Nas rugas do meu rosto onde se lê.
Pobre Poeta olhando o azul do céu
Pobre que redobra a dor e sonha
Pobre como mendigo, nada tem de seu
Até seu poema morre de vergonha.
Sendo Poeta posso até às pedras dar vida
Trazer o cinzento a um dia de sol
Fazer do passado uma teia bem urdida
E ser se quiser no campo um girassol.
A Vida é um labirinto
Ainda assim faço narrativa
Daquilo que sinto.
Sinto a àgua a correr no açude
Sinto a sombra fresca do salgueiro
Sinto o tempo a passar, já não me ilude
Este tempo que foi festa, hoje trapaceiro.
Sinto saudade da idade de prata
Sinto as dores que em mim se abrigam
Sinto a saudade que às vezes me maltrata
Meu livro da vida, onde os sonhos ainda brigam.
Visito a imagem que vejo ao espelho
Cai uma lágrima molhada, é já tarde
Passou o tempo fiquei eu e o espelho velho
Feitos noite, já do dia com saudade.
natalia nuno
rosafogo
DO SONHO FAREI MORADA
DO SONHO FAREI MORADA
Perdi-me por aí, que fazer agora?
Tudo no meu peito arrefeceu
Já minha alegria foi embora
Ou talvez só adormeceu.
Choro p'lo tempo que não pára
Choro a noite que segue o dia
E esta saudade que não sára!?
E nem a dor me alivia.
Choro a Primavera perdida
Choro às vezes sem razão
Mas hoje voltei à Vida
E saí da solidão.
Meu caminho é este gume afiado
Para trás a saudade e eu esbatidas
Deixo o passado deitado
E as lembranças adormecidas.
Porque hoje só quero sorrir
Quero meu coração ainda quente
O tempo não existe, não pode existir
Não deixo que o sonho fique de mim ausente.
Do sonho farei morada
Vou me libertar,
Esvoaçar
Ainda que meu vôo seja pouco mais que nada.
rosafogo
natalia nuno
terça-feira, 5 de outubro de 2010
RENTE À ESPERANÇA
RENTE À ESPERANÇA
Há vozes que falam nestas minhas linhas
Vozes que fizeram parte da minha vida
Que falam ainda das saudades minhas
Duma maneira desabrida.
Minha voz só... é pequena e silenciosa
E quando grita?!
Grita queixosa!
Como água gélida dum rio
Em direcção à foz
Segue minha vida assim, já sem voz.
Desfaleço com um pobre lírio
Com a esperança já puída
A saudade é minha companheira
Junta-se a mim já crescida
Suspirando na minha alma inteira.
Mas porque sou eu tão tenaz?
Sinto um mundo a bater-me no peito
Nem eu sei, mas tanto faz!
Fincarei pé, é este o meu jeito.
Deixem-me passar que sou rio
Deixem-me, que quero ser livre
Sinto que ainda sou força, também frio
E a esperança em mim ainda sobrevive.
rosabrava
domingo, 3 de outubro de 2010
AUSENCIA FORÇADA
AUSENCIA FORÇADA
Range na porta a fechadura
E eu lembro-te com os olhos da mente
Lembro o som do ranger na hora dura
Da despedida entre a gente.
E me deixas sem palavras e sem norte
Atrás da porta esperando
Que os dias passem e com sorte
A gente se encontre e vá esta dor calando.
A saudade dá frio e eu invento milagre
Escrevo-te palavras para o tempo entreter
Já não basta uma visita para matar saudade
E esta escrita só me faz doer.
Numa rajada de sabor
Chegas tu e se faz amor.
As lágrimas me chegam p'la memória
E quantas chegadas e partidas
Houve na nossa história?
Quantos dias contados, quantas portas batidas.
Meu coração a bater, fervendo de vida
Minha memória ainda está ressentida
E neste caudal de lamentos
Morro por fim no sítio onde te espero
Com os sentidos magoados pelos momentos
Que ainda recordo com desespero.
Foi uma violência a vida
Mas a semente germinou ainda assim
E com tanta despedida
Nosso amor não teve fim.
Alguém ficou de lágrimas e alegria coagolada
Sentindo o tempo a passar determinado
Desisto da aventura por estar cansada?!
Agora que caminho a teu lado?
rosafogo
natalia nuno